quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Das muitas cartas

Nestes dias me surpreendo cabisbaixo e as pessoas me perguntam por que estou triste. Não encontro resposta e algo me percorre soprando que não é tristeza, que não haveria motivos para. Há uma ausência morando em mim. Uma ausência que com o tempo vai desarrumando a casa ou que vai tornando inválida a antiga ordem. Queria tanto que em meus dias houvesse ao menos um instante que por ser só nosso faria valer todas as más horas (que, sabes, temos de atravessar) e também tornaria melhores as horas boas. Queria tanto ligar contigo fins e começos, noites e manhãs e, assim, acalmar esta morte consecutiva. Hoje, por exemplo, ao ir beber água durante o teatro, vi tua carteira em tua classe, e isto nada tem de literária ou de qualquer outra intenção. Era tua exata carteira, tua carteira de canhoto, onde te sentas todos os dias com o amor canhestro que há em ti e que nos desvia. Fiquei imaginando que poderia me aproximar sorrateiro ou qualquer coisa assim e te enlaçar e te beijar e. Ontem, em todos os momentos em que o sono me venceu (minutos de uma aula, cenas de um filme), sonhei, o que é incomum quando durmo, e lá estavas, a mão estendida. Nestes dias tenho lido, lido, lido, para diante da Beleza poder chorar e não pensar que meu choro é em vão. E logo eu, que tento me mostrar tão forte quando nossos olhares, por encanto, se cruzam nos intervalos e nos descruzamos com uma espécie de afoiteza. Logo eu, que silencio.

Meu silêncio é uma mentira.